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A crise da segunda feira improdutiva

Quando o teu dia começa com uma taça de vinho no café da manhã, isso só pode ser um aviso. Ainda não sabia exatamente qual, até o relógio bater as 16:00 horas e o meu espírito começar a mudar. Acordei preguiçosa e me sentindo culpada. Depois de maratonas loucas de trabalhos enfrentando um negócio no começo na ânsia da decolagem + carnaval + festival brasileiro de cerveja enquanto a gente tenta equilibrar a vida pessoal com momentos de lazer bagaceirísticos e passar por algumas decepções, tudo em mim enfrentava uma leve estafa.  Minha cabeça tava falhando. Meus prazos se acumulando. Minha rotina na academia se esvaindo. Fugi quatro dias para São Paulo. Voltei me sentindo recarregada.  Aí chegou o final de semana. O marido trabalhou loucamente e eu acabei me influenciando pelos horários trocados dele. Quando a segunda -feira bateu, lá tava eu toda atrapalhada nos horários de novo.

Ok. Eu me dei mais um dia fora dos compromissos programados. Continuei o desentralhe no meu puxadinho, fiz marmitas da semana, fiz mais planejamentos e de repente…, lá tava eu chafurdando numa bad que eu não sabia da onde tinha vindo. Oi amiga, como assim?? Não te ensinaram que chegar sem avisar é indelicado? hahahaha!

Costumo ser implacável nas minhas tarefas. Costumo lidar maravilhosamente bem com rotinas puxadas e longas horas de trabalho. Costumo lidar com maestria tendo dez mil tarefas ao mesmo tempo. Arrisco a dizer inclusive, que essa sempre foi a minha característica preferida ( e que me faz ser odiada pela maioria, porque eu adoro julgar quem não consegue hehehe).  Mas, sabe gente…não ter um chefe, alguém pra prestar conta, ou um ponto pra bater às vezes pode ser desalentador. Quando a gente nem percebe estamos acostumados com o ” daqui a pouco eu faço, não tem problema” e quando você vai ver, não é o chefe que tá te cobrando, mas sim a vida e a vida quando vem amiga, tá nem aí para os teus motivos. Ela não senta contigo e fala ” vem cá, o que está acontecendo você? porque esse rendimento tão baixo?”. Hoje, na bad inavisada eu resolvi me adiantar a vida e puxar a responsabilidade pra mim de novo. Se eu já odeio qualquer pessoa me cobrando, imagina só quem me cobra assim, sem nenhuma cordialidade.

Aí tava aqui, pensando e repassando todas as minhas coisas. O que eu preciso fazer, pra quando, como e tudo mais e pensei: cara, sou pior que a vida =) Acho que somos né!? Aquela velha história que somos o nosso pior inimigo é tão verdade, para os dois lados. Quando a mão esquece o equilíbrio a gente entra em uns desesperos e paranoias sem precedentes. É a hora de respirar, de se acalmar. Eu escrevo. Tudo assim meio sem nexo mesmo, mas é a forma de me acalmar e ja já tá tudo bem. Eu vou tomar uma outra taça de vinho, mas dessa vez vou falar pra ela: amiga, cê tá aqui pra me dizer que o amanhã vai ser bom, sai pra lá com esse pessimismo =)

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Experiências que transformam nossa militância.

Há quatro meses, eu acordava meio desorientada com um telefonema do meu pai no meio da madrugada: “já prenderam o assassino. Foi o Lucas”. Eu lembro de ter perguntado umas três vezes incrédula no telefone: “oi? como assim?”.

Desliguei o celular tremendo. Virei pro meu marido quase sem voz e repeti o que o meu pai havia me dito. Não dormi mais. Naquela noite estava no meu quarto, eu, meu marido e um amigo de longa data. Foi a primeira vez na vida que eu tive medo deles. Era medo tipo pânico mesmo. Eu não estava segura ali.

< <Recorte no tempo> >

Alguns meses antes, uma colega da militância feminista havia feito um post dizendo que todos os homens são estupradores em potencial. Eu lembro de ter comentado que achava aquilo radical e ela respondeu dizendo que por mais amiga que seja do homem, ela sempre vai desconfiar deles. Eu não falei mais nada, mas pensei no meu irmão, no meu marido, nesse amigo que dormia no meu sofá e eles jamais estuprariam uma mulher e concluí baixinho comigo mesma: Esse feminismo não me representa.

<<Volta para os 4 meses atrás>>

Quando todos despertaram pela manhã, eu expliquei o que havia acontecido para o Lapa ( o amigo que dormia no meu sofá). A minha prima havia sido assassinada pelo cunhado ( marido da irmã). Ainda não tínhamos informações necessárias sobre o motivo, mas a questão é que o cunhado sempre de fala mansa, gentil, cristão (aff!), pai, rico, e educado estava na família a pelo menos uns 20 anos. Eu não conseguia praticamente pensar na minha existência, sem lembrar dele. Com certeza se encaixava no rol de “não é todo homem estuprador/agressor em potencial”, tanto é que além não conseguir entender que minha prima mais amada do Universo tinha sido assassinada, eu não conseguia entender que havia sido por aquele homem. Eu passei o resto da madrugada lembrando do post da colega feminista no facebook.

Eu lembro que naquela manhã, eu passei quase toda ela discutindo e falando de feminismo com o meu amigo ( que provavelmente nunca havia sido tão inundado de tanta discussão a respeito). Naquela manhã, eu tive uma DR particular comigo e com a minha militância. Eu pensava com toda a culpa do mundo: Como é que um dia eu chamei qualquer mulher de louca porque ela simplesmente tem medo dos homens?. É pra ter mesmo. Eu pensava: Como é que em alguns momentos da minha vida eu flexibilizei os meus ideais porque eu “conhecia o macho e sabia que ele não seria capaz”?. Como é que a gente conhece alguém tão bem a ponto de colocar a mão no fogo por ele?. Como é que eu em algum momento da minha vida já havia deixado de socorrer uma mulher por que o macho era meu amigo? (não lembro de ter feito isso, mas tem coisas que a gente nem repara, não é mesmo!?).

Naquela manhã eu fiquei tentando entender os motivos (como se pudesse haver algum) e ainda achava que tudo não se passava de um pesadelo. Era real. Muito real. Naquela manhã eu me dei conta do quanto eu ainda tinha que avançar na minha conversa com o feminismo.

<< Recorte no tempo >>

Essa semana, discutia na mesa de um bar sobre a influência que nossas experiências pessoais tem em nossa militância. Eu descobri há quatro meses que é total, mas que ao mesmo tempo, devemos tomar cuidado para não restringir nossa luta apenas aquilo que nos diz respeito.O grupo que participo aqui em Blumenau é muito diverso. LGBT, feminista e negros. Eu me encaixo apenas no segundo coletivo, mas não por isso devo esquecer das pautas dos outros. Quando a gente luta por uma igualdade e esquece a do outro, a gente não luta por nenhuma. Da próxima vez que alguma mulher me relatar abuso, assédio, agressão ou o que quer que seja, aprendi que devo escutá-la. O exercício da escuta é o MAIS PRECIOSO nesse caminho. Se colocar no lugar do outro. Acolher quem precisa de nós. Da empatia ( que é uma palavra da moda, mas que faz bem colocar em prática não só quando interessa). Que a gente possa aprender com as nossas vivências, mas que possamos refletir com as vivências alheias. Que a gente possa evitar que outras pessoas tenham as mesmas experiências negativas que as nossas. Que a gente possa ser cada vez melhor. Eu com certeza ainda tenho um longo caminho de militância pela frente, mas sigo feliz por conseguir aprender com os meus erros.

Como bem disse uma amiga foda hoje: O arco íris é para todos.

 

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Ser presente!

Eu escrevi esse texto mentalmente há quinze dias. Tenhos essas manias de escrever textos maravilhosos na minha cabeça quando estou quase pegando no sono, ou correndo atrasada para algum compromisso. Eles são sempre os melhores, mas aí depois esqueço e nunca vai pro papel ( ou pro wordpress no caso), mas enfim.

Eu acho que devo ter nascido uma criança doce. Não sei porque, mas acho que crianças são doces e gentis. Não sei em qual momento da história eu me tornei uma adulta doce, mas fechada. É galera, eu sou fechada. Sou falante, mas sou discreta em relação ao que passa com meus sentimentos. Há quem diga que eu não sei demonstrar sentimentos ( helloo Amandiinha), e elas estão certas. Quer me constranger, basta me abraçar apertado e ser fofo. Não sei como reagir. Não sou fofa nem no meu casamento e se você me ver fofa é porque eu estou bêbada. Se eu gosto disso? Nem um pouco. Queria chegar em você e falar: “oi, tudo bem? que saudade, eu te amo”, de forma natural. Mas puxa, isso é muito difícil.

Descobri que eu foco a minha fofurice de outras formas. Sou disponível por exemplo. Você pode me ligar de madrugada que eu saio de pijama e pantufa ( que eu não tenho, mas vou comprar só pra esperar você me ligar) pra te acodir, aonde for. Essa é a minha forma de ser fofa com você. E sinceramente falando, é a forma como eu gostaria que as pessoas fossem fofas comigo. Prefiro mais do que um discurso bonito com pouca prática.

E porque eu tava pensando nisso? Porque a minha prima morreu. E morreu do nada. E eu não me lembro de ter sido fofa com ela nos ultimos 10 anos. Nem fofa de falar eu te amo e nem fofa de estar disponível. Porque? Porque eu, assim como quase toda a existência desse mundo estava muito ocupada vivendo a minha vida e viver a minha vida, significa esquecer dos outros. Faz sentido? Não. Mas é assim que a gente faz.

Eu tenho 24 horas no meu dia. Durmo de 06 a 08 horas e trabalho de 8 a 10 horas por dia. Nas outras seis horas diárias que eu perco no facebook, vendo séries no netflix ou enrolando na cama, eu não posso passar a mão na p** do meu telefone e mandar uma mensagem pra quem eu amo. E eu amo, antes mesmo de lembrar que eu existia, sabe porque? Porque ela me pegou no colo. E me ensinou boa parte das minhas lições de vida quando criança. Porque ela aguentava uma pirralha no pé dela, quando ela era adolescente. E me ensinou a entortar a boca fazendo careta (aprendizado de levar pra vida. Faço ate hoje quando não gosto de alguma coisa haha). E eu não tive tempo por que estava muito ocupada fazendo vários nadas na vida. Porque eu achei que esse dia fosse demorar: até parece que tragédias acontecem com 1) gente nova; 2) gente nova da minha família.

Naquela segunda-feira há 15 dias eu me senti uma farsa e uma hipócrita. Porque eu sempre faço um discurso lindo de como meus amigos são importantes e como é importante demonstrar e como a gente tem que aproveitar a vida por inteiro porque de repente PAH, somos surpreendidos e lá estava eu, pegando o avião desesperadamente por que não segui o meu conselho mais básico da vida. E de repente, uns dias depois eu estava lá, sentada no cemitério chorando pedindo perdão por ter sido relapsa.

Mas há um outro conselho que eu costumo repetir incansavelmente é que até das coisas ruins a gente deve tirar lições e enquanto eu pegava no sono escrevendo esse texto mental, eu pensava que a chance de ser fofa com ela tinha sido arrancada das minhas mãos, mas que há outras chances flutuando por aí e que eu ainda tenho tempo de aproveitá-las e não sentir o gosto amargo do arrependimento. Um gosto tão ruim que não tenho vontade de repetir.

E é isso. A gente pode crescer no amor, mas gosta mesmo é de crescer na dor.

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Olimpíadas e o nosso patriotismo de ocasião.

Eu confesso que estava perdida no calendário olímpico. Havia combinado de ir ao Rio de Janeiro visitar uns amigos e quando fui ver as passagens quase morri. Foi quando me dei conta, que a época era a mesma dos jogos e que, logo logo, o país iria estar inundado de gringos.

Nesse ano, eu não entrei muito em discussões a respeito da viabilidade do evento ou não. Lembro que na Copa do Mundo, fui uma defensora mais convicta. Sabia ( como infelizmente todo brasileiro sabe) que o governo ia roubar muito. Sabia que um monte de obra não ia estar pronta, mas tentava olhar o copo cheio. Falava dos benefícios para o turismo, para o comércio e até mesmo os investimentos em mobilidade que iriam ficar como legado ( cadê né!?ate hoje procuro).

Esse ano, é tanta notícia ruim que até uma patriota e otimista como eu, andava meio cabisbaixa. Por outro lado, as milhares de notícias ruins que proliferam e que, na maioria das vezes, são divulgadas por canais brasileiros, me incomodavam e MUITO. É uma tal de disputa pra ver quem tá mais na m** que pelo amor de Deus. Esses dias eu vi a foto da Hope Solo, goleira da seleção de futebol dos Estados Unidos, cheia de capacete com medo do Zyca vírus dizendo estar preparada para vir às Olimpíadas e, obviamente, fui ler a tal da repercussão negativa e das críticas dos brasileiros. Mas minha gente, vocês são os primeiros a colocarem a imagem do País como algo semelhante a um inferno, não dá pra culpar o gringos né!? Eu via novamente, a postura de dois anos atrás se repetir. Antes da copa era um tal de “esse é o país da copa” ou “não vai ter copa” ou ” que absurdo essa copa” e na hora, loucura geral mesmo com o 7×1. Depois, a gente passou um tempo exaltando os alemães e aí a vida normal e real apareceu e ficou tudo por isso mesmo.

Aí ontem, lendo esses textos super empolgantes e emocionados no facebook, me dei conta de que vivemos um relacionamento abusivo. Fiquei na dúvida se somos os abusados ou os abusadores, mas creio que na maior parte do tempo, somos os abusados. A gente come o pão que o diabo amassou no nosso dia a dia. Tá faltando hospital, tá faltando educação, tá faltando transporte público, tá faltando uma porrada de coisa. E a gente passa anos reclamando. A gente gasta mais energia em publico pra falar mal do País do que pra elogiar. A gente passa muito tempo discutindo em nossas rodas formas de ir para o exterior ou aplaudindo quem teve coragem, mas na hora do “vamo ver”, o povo arrega.

Aí, vem uma festa linda.Vem Gisele Bundchen ( quem pode disputar com ela, não é mesmo!?). Vem pessoas de fora fazendo elogios, vem aquela adrenalina toda, vem uma história de superação ( onde boa parte dos obstáculos fomos nós, mas vamos esquecer isso) e de repente, todo mundo se sente merecedor do ouro e pronto. Os problemas acabaram. Só vejo textos dizendo “embora a gente saiba que tá ruim, vamos curtir”, e aí, o povo vai curtir. Vai ignorar notícias ruins, vai esquecer da política, vai deixar de lado a tentativa de reforma trabalhista que estão fazendo, querendo negociar até as férias e vai ficar por isso mesmo. Daqui a pouco a festa acaba. Daqui a pouco o auê passa e não teremos legado positivo. Nosso desempenho nessa olimpíada está pior do que o de Londres há quatro anos. Isso quer dizer, que ao contrário do que tentam fazer parecer, os investimentos em educação e esporte não estão sendo como a gente sempre diz que deveria ser (rimou, mas não foi proposital, eu juro). As pessoas estão ganhando por mérito, é claro, mas se agarrando a pouquissimas oportunidades que o Estado ainda consegue prover.

Daqui a pouco, as mulheres que continuam sendo praticamente maioria em quase todos os lugares, vão continuar ganhando menos. Vão continuar tendo medo de voltar a pé sozinha para casa a noite. Vão continuar sendo esquecidas ou, recebendo mensagens como a Joanna Maranhão recebeu essa semana. As mulheres vão continuar apanhando e o brasileiro vai continuar sem ver. Daqui a pouco, negro, pobre e favelado vai continuar levando 111 tiros sem ser acusado de um crime sequer. Daqui a pouco, as pessoas vão continuar defendendo o fim das “bolsas esmolas” inclusive, a bolsa atleta.

O espírito olímpico é lindo, se a gente continuasse com ele depois que tudo isso passa seria ótimo e com certeza tudo ia valer a pena. Mas a verdade, é que a gente não continua. A verdade é que a gente segue em frente no meio do caos e a verdade é que a gente agora, quer se espelhar nesses atletas incríveis que nós temos como exemplos de superação, mas eles não são os únicos. Porque o que mais o Brasil produz nessa vida, é gente guerreira que batalha, persiste e ganha, APESAR das diversidades (apesar das olimpíadas, inclusive) e isso gente, não é nenhuma mudança para nós. Será, quando os ouros forem conquistados por conta do treinamento de ponta que eles estão recebendo, tipos os gringos sabem!? Aí, a gente pode comemorar aos berros, mas enquanto ainda nos assustamos e exaltamos essas exceções, é porque estamos longe, muito longe do caminho que deveríamos estar.

Por isso que eu digo que estamos num relacionamento abusivo. Sofremos a maior parte do tempo, não temos dignidade durante boa parte das nossas vidas ( se você é usuário do transporte público por exemplo, sabe bem o que é isso. Se é aposentado então, nem diga), mas, é só um circo aparecer que a gente finge que tá tudo bem, sorri para a câmera, exalta o nosso lado brasileiro ( aquele que vocês adoram criticar com textos de gringos, lembram!?) e tá tudo bem, esquecido, passou, foi um pequeno deslize. Vamos dar mais uma chance, porque né..o que nos resta!? e quando a milésima lua de mel acabar, a gente volta a reclamar no facebook/twitter/mesa de bar. E assim, a gente segue. Amarrados nos braços de um abusador poderoso e convicto, sem a menor esperança de reação!

Mas é isso, Vai Brasil =)

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Por que nós devemos servir aos nossos empregos e não o contrário?

Você, assim como eu, teve o modelo de trabalho comum. Sair de casa de manhã e voltar a noite. Se, por acaso você mora numa grande cidade, está acostumado com pessoas que passam pelo menos quatro horas diárias no trajeto de ida e volta da labuta. É normal. É o socialmente aceitável. Aliás, esse mundo tá tão doido que eu vejo as pessoas disputando para ver quem trabalha mais, ou perde mais tempo no trânsito/transporte público.

Outro modelo que vejo bastante, é uma imensidão de bons profissionais, com formação de alto nível, pró ativos e que gostam do que fazem, entediados com os seus trabalhos. A maioria dessas pessoas quer ir além, mas as estruturas engessadas não permitem. Se você trabalha numa grande empresa, deve saber disso. Se, por acaso, você é uma dessas pessoas, também sabe que várias vezes a gente fica saturado de fazer a mesma coisa sempre, simplesmente porque sabemos que temos um potencial muito maior, mas ao mesmo tempo, o medo de empreender em carreira solo é assustador.

Eu sempre soube que esse não era um modelo pra mim, mas mesmo assim durante a faculdade me permiti um estágio de dois anos nesses termos. Embora como estagiária eu tenha aprendido bastante, jamais, em hipótese alguma conseguiria imaginar a minha vida seguindo daquela forma. Meritocracia? conversa pra boi dormir. Fofoca? Aos montes. Limitações? gerais. Eu via toda a minha criatividade sendo drenada para lugar nenhum e, em troca, me davam alguns benefícios que, naquele ponto da vida, pareciam, WOOOW que incrível, mas que agora eu só penso “gente, que b**””. Eu terminantemente não havia estudado, nem sido criada para ser um robozinho.

Outo tipo de pessoas que vejo por aí também, são pessoas responsáveis. Aquele tipo que sabe o que tem que fazer e vai fazer independente de ser mandada ou não. Ela gosta da profissão, ela gosta do trabalho, ela quer continuar empregada. Ela não precisa de uma babá 8 horas por dia pra ficar de olho em suas atividades e, por outro lado, o chefe com certeza tem coisas mais importantes para serem feitas do que ficar de olho se fulana vai fazer uma hora de almoço ou se vai mil veze ao banheiro.

Talvez eu esteja rodeada de ótimas pessoas, mas esse é o cenário que tenho próximo de mim (em sua maioria, é claro). Resumidamente, bons profissionais que não se encaixam confortavelmente nos padrões de emprego que é oferecido e, que por mais que amem o que façam, acabam se tornando insatisfeitos. Aí vem os patrões com desculpas como produtividade, crise, cortar benefícios, etc, etc e apenas pioram esses cenários todos. Aí vem a sociedade te dizendo que você não é bem sucedido se não estiver numa multi nacional, bem empregado e que louco você é de sair do seu emprego agora.

E eu acho que a gente precisa falar sobre isso. É claro, que o meu ímpeto é falar pra você largar essa empresa capitalista de m** porque você não sabe o potencial que tem e ir atrás dos seus sonhos, mas não precisamos ser tão radicais assim..nem todo mundo se encaixa na mesma realidade e eu estou aprendendo aos poucos a respeitar isso, rsrs!

Mas, a gente precisa se perguntar porque nos sujeitamos a este tipo de coisa. Porque a gente passa boa parte da nossa vida nos preparando para servir algo que a maioria das vezes, a gente nem acredita. E que tipo de liderança a gente vem tendo? Eu vejo líderes cada vez mais despreparados, e tenho certeza que vocês também. Aliás, eu vejo chefes. Líderes mesmo, são raros, raros!

Eu costumo comparar o método das empresas com aqueles pais super protetores que criam crianças/jovens/adultos bundões, sabem? Eles ficam falando que os funcionários não têm iniciativa, mas quando tem, são cortados. Aí, no final das contas, a mentalidade de empregado se resume a pensar totalmente dentro da caixinha e apenas até um certo limite. Cara, que aprisionador é isso.

Principalmente nas grandes capitais, mas não apenas nelas, o modelo home office por exemplo seria um alívio para quase tudo. Para o trânsito, para o transporte público, para o bolso dos empregados, pra sanidade mental das pessoas. Você de repente, não precisa trabalhar os 5 dias da semana de casa, mas poderia trabalhar dois, ou três, ou até mesmo um dia. Se, o funcionário estiver feliz com o seu trabalho, tiver sendo remunerado de acordo ( e não apenas financeiramente) e tiver consciência de sua responsabilidade, não importa o local da mesa dele, ou ninguém nunca teve aquele colega de trabalho que não faz nada o dia inteiro e senta do lado do chefe, por exemplo? Precisamos questionar principalmente, porque esse tipo de gente costuma ser promovido mais vezes. Eu já vi gente sendo promovida oficialmente pelo critério de número de filhos (e não, não era mulher é claro), mas todo mundo sabia que não era exatamente aquilo.

Se você tem tarefas para entregar durante as suas oito horas diárias, qual impacto e qual diferença para empresa vai fazer se você faz o seu turno de trabalho das 08 às 17 ou das 10h às 19h? Tem quem prefira chegar cedo e sair cedo, tem quem prefira acordar mais tarde e pegar o metrô vazio, por exemplo. Porque as empresas quando falam em flexibilizar a legislação trabalhista, não flexibilizam essas regras de mil novecentos e bolinhas para que o seu funcionário tenha mais bem estar e trabalhe menor? Por qual motivo o discurso “essa empresa também é de vocês” não é estendido em pequenos detalhes? Principalmente hoje em dia, que se tem milhares de formas de controlar seus empregados a distância, por que não há mais investimento nisso tudo?

Eu não sou formada em recursos humanos ou qualquer outra coisa do tipo, mas tudo isso me parece tão óbvio. Ao invés de complicar a vida do peão, facilitar coisas triviais para eles traz muito mais resultado do que o contrário. Eu vejo nessas épocas difíceis o terrorismo que as empresas fazem com os funcionários para que eles entrem em pânico e rendam mais e o resultado é um monte de gente em pânico fazendo fofoca do próximo que será cortado. Daí, as pessoas ficam surpresas que novas modalidades de trabalho e de negócios estejam surgindo como se tudo isso fosse novidade, mas não é. O que começou a acontecer, de forma bem tímida ainda é que resolveram começar a questionar muitas das ordens impostas há seculos e que não parecem fazer o menor sentido nos tempos atuais.

A gente precisa falar sobre nosso trabalho. A gente precisa falar sobre o nosso tempo. O que estamos fazendo com ele? o que realmente estamos produzindo? para quem e para o que estamos dedicando a nossa vida. Será que vamos precisar continuar vivendo como se a melhor idade fosse apenas na aposentadoria?

Fica aí a reflexão 😉

 

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O relato de um cara de T.I casado com uma mulher de humanas. Ou seja, como que um cara certinho faz para conviver com uma bicho-grilo

Eu estou sempre por aqui, ou no facebook, ou no instagram contando as minhas peripécias desde quando resolvi mudar de vida.  O que falo poucas vezes, é como o outro morador da minha residência e outra parte do relacionamento, reage a maior parte das minhas ideias mirabolantes.

Para dar uma situada, eu e o Bruno somos quase como óleo e água. Um gosta de doce e outro de salgado ( há uma grande controvérsia nisso, as beleza). Um gosta de coisas coloridas e outro de cores sóbrias. Um quer ir passar as férias num resort na Bahia, cheio de mordomias, pernas pro ar e o outro gosta mesmo é de passar uns perrengues doidos na estrada e arrastar sua mala de rodinha mundão afora. Um gosta de polêmica e outro gosta de se abster de tudo aquilo que possa cansar sua cútis. Sabe-se lá como, o Cosmo se alinhou e nos tornou um casal há 8 anos.

Por isso, a gente resolveu fazer esse texto. As reações sinceras do Bruno são mais do que divertidas e me ajudam a lidar com a maioria das perguntas, críticas, sustos, choques, interesses, e até mesmo com as minhas próprias descobertas.

Sem mais delongas, deixa que ele continua daqui pra frente. Divirtam-se

Oi pessoal, meu nome é Bruno (prazer!). Sou uma pessoa bem discreta no jeito de se vestir, portar, de falar e também sou bem conservador quanto a voltar a usar coisas que a natureza dá no dia-a-dia no lugar de coisas práticas que a ciência e o mundo moderno nos proporcionaram. Como um cara de TI, aprovo quase tudo o que a ciência desenvolve para ajudar o nosso cotidiano, porém minha amada Dani me mostrou que nem tudo são flores nesta vida.

Em Abril deste ano passamos alguns dias de nossas férias no RJ (pouco tempo antes da Dani mergulhar de cabeça no projeto do óleo de coco babaçu) e tivemos a oportunidade de conhecer o Museu do Amanhã. Lugar bacana, bem equipado e tal (não gosto de museus), com exposições mostrando a composição da Terra, aquecimento global e avanços da ciência no geral. Um assunto em específico chamou bastante a minha atenção, mas não pelo lado positivo: descobertas recentes podem fazer com que o ser humano possa viver ainda mais, podendo passar facilmente do centenário. Uma excelente notícia para a sociedade, não?! Ainda não me aposentei, mas na hora comecei a imaginar o que eu faria com alguns bons anos a mais de vida. Viagens, empreendimentos, morar em um local diferente, de frente pra praia… Pois tudo isto meio que veio por água abaixo quando o Dr.Cientista terminou de apresentar o propósito desta descoberta – nos fazer trabalhar cada vez por mais tempo e aposentar mais tarde. Se hoje é possível pedir a aposentadoria com 60 anos, com este avanço este limite seria cada vez mais postergado. 70, 80, 90 anos de idade e ainda trabalhando para alimentar o sistema e todos os seus sanguessugas? Não vai estar dando, senhor… como se já não bastasse olhar pro papel cebola (holerite) todo final de mês com todos aqueles descontos e ter de enfrentar notícias diárias de corrupção em todos os governos que se possa imaginar do nosso país, ver seu dinheiro sendo gasto descaradamente e saber que quase nada disso é revertido para a população como deveria.

Pois bem, não sei como vim parar neste tema… na verdade queria usar um pouco este espaço para contar um pouco das minhas experiências com estas coisas fantásticas que a natureza nos dá…
A primeira etapa de deixar o nosso estilo de vida no geral mais saudável foi introduzindo o óleo de coco babaçu logo após o nosso retorno de Codó-MA com alguns litros na Mala. Todos os dias a Dani pesquisava várias coisas sobre ele e sempre tinha alguma descoberta bombástica. Meu primeiro contato foi com um sabonete vegano feito pela dani, que ficou simplesmente espetacular. Depois de ter experimentado decidi deixar um pouco o preconceito de lado e experimentar mais algumas dessas coisas sem compostos químicos e industrializados. A próxima etapa foi começar a usar o babaçu na culinária, até aqui tranquilo também, o que me deixou mais espantado foi o que estava por vir.

Partindo para o próximo nível de dificuldade, encontramos o seguinte desafio: substituir o fantástico Mr.Músculo (indicação da minha sogra que preza pela facilidade nas tarefas do lar) por uma mistura de vinagre com bicarbonato de sódio. Não preciso nem dizer que achei esta combinação bizarra né? Dito e feito, tentamos limpar a casa com isto e tudo ficou cheirando a salada… ¬¬
Para amenizar um pouco o trauma, a dani começou a juntar cascas de mexirica em um pote de vidro mergulhada no vinagre com bicarbonato – “vai ficar com um cheirinho bom”, ela disse… devo admitir, ficou melhor, mas ainda assim não tão prático quanto o Mr.Músculo.

Há cerca de dois dias o nosso shampoo começou a acabar e a dani logo sinalizou que passaríamos para o 3º nível do nosso desafio natureba – substituir o shampoo de mercado por bicarbonado de sódio e vinagre novamente. Meu primeiro pensamento foi “vou ficar com a cabeça cheirando a salada” e até tentei dar um chega pra lá na reaça, mas fui voto vencido. Devo dizer que esta substituição é bem difícil porque o composto não faz espuma, é completamente líquido e difícil de manusear no banho – sem contar no cheiro de salada. Como ainda estou me recuperando de um resfriado, não estou sentindo cheiros direito e ainda não sei dizer se estou com cheiro de salada ou se a composição realmente funciona – disse a dani que estou com cheiro normal, então fico um pouco mais tranquilo…

Acho que até agora está tudo indo tranquilo, só fico preocupado quando chegarmos na etapa de substituir o papel higiênico…

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Sobre uma manhã (não tão) normal

Hoje parecia uma manhã como todas as outras. Acordamos, praticamos o silêncio, conversamos um pouco, tomamos nosso café a prova de balas (novo vício).  Aqui em Blumenau o dia está lindo apesar da baixa temperatura. O Bruno pediu que eu o levasse ao trabalho. Relutei. Tava quentinha enrolada nas cobertas jogada no sofá, enquanto ele me servia.  Resolvi fazer a bondade e aproveitar o Sol.  Coloquei um moletom, uma calça jeans e saímos. Fui conhecer um café novo em Blu City que eu sigo no instagram. Pedi um pão de queijo para não ficar sem consumir nada. Sentei para ler um livro. Meu celular apitou. Mensagem de uma amiga me informando que havia mais interessados no óleo de coco babaçu. Sorri. Falei para o Bruno. Voltei para o livro. Não consegui. Suspirei. Pronto, já estava perdida. Tenho dificuldade para me concentrar. Comecei a pensar na vida. Sorri de novo. Como ela é boa. Parei para pensar se era presunçoso demais escrever sobre isso. Deixei para lá. Mudei de ideia. Abri o bloco de notas do celular para colocar os sentimentos na tela. Escrevo porque eu gosto. Escrevo porque me faz bem. Hoje em dia, falam tanto que a gente não pode ser feliz. E se formos não pode publicar. Se publicar é porque é mentira, as melhores coisas da vida estão offline. Não discordo (tanto), mas o online também tem sido muito incrível. Se o online fosse uma pessoa eu  convidaria ela para sair.  Dizem que a grama do vizinho é sempre mais verde. Discordo. A minha grama é sempre linda. Até quando ela não tá bem regada, ela é linda. Volto a me achar presunçosa. As pessoas têm problemas com relacionamentos. Com dinheiro. Com amigos. Com profissão. Eu também tenho alguns desses problemas. Eles me tiram o sono as vezes. Mas eu gosto mesmo é do relacionamento, do dinheiro, da profissão, dos amigos que não são problemas. Eles são sempre maiores. Se um amigo me machuca, eu me lembro da Marina, da Maíra, do Wellington. Eles são demais para eu não acreditar mais em amizade. Se minha conta tá no vermelho. Eu me lembro das cervejas tomadas. Das viagens feitas. Do pagamento dali uma semana. E por aí vai. Eu não sei se aprendi sozinha ou se aprendi observando alguém,mas eu sou boa em olhar o copo meio cheio. Suspiro mais do que choro. Agradeço mais do que reclamo. As vezes é automático, mas tem manhãs como a de hoje que a gratidão tá bombando. Porque ser grata atrai coisas boas. Ser grata me trouxe o Bruno, a Maria, o Leo, o João, a Telma, a Olivia, a Edi e tantos outros. Agradecer é um exercício muito mais prazeroso do que reclamar. A vida é um presente. O melhor de todos. E em manhãs como a de hoje, ela é melhor ainda ❤

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O que acontece na vida adulta, com os apelidos da agenda telefônica?

Estou eu nesse domingo frio em Blumenau curtindo a minha solidão. A gente está sempre tão rodeado que às vezes esquecemos como é gostoso se afundar no sofá, pegar uma comida gostosa, ler um bom livro e deixar o celular com toda a sua urgência apitando loucamente, de lado!

Por motivos que eu nunca consiguirei entender, minha mente funciona de forma alucinada. Ela tá aqui comigo curtindo a solidão, daqui a pouco pensando sobre a fome na África e logo após escrevendo um texto mental para esse humilde blog. Ao invés de lutar contra isso, resolvi seguir o conselho do Universo, largar o livro e fazer uma das coisas que mais gosto nessa vida: Escrever.
Sempre falam “nossa Dani, você deveria ter sido jornalista” ou “nossa Dani, você deveria escrever um livro/blog/coluna” eu respondo dizendo que não tenho talento para formalismos. Eu não sei ser formal e o formalismo me entedia. Meus textos, mesmo os jurídicos eram cheio de informalidades e por tal motivo, eram reiteradamente corrigidos por chefes formais. Quando eu não tinha mais chefes formais, eles eram corrigidos sutilmente pelo meu sócio formal que escrevia emails com “prezado fulano” até quando o fulano era amigo dele rsrs!
Eu lembro que levei um choque quando eu vi o meu nome na agenda telefônica do Bruno quando ainda namorávamos. Estava escrito assim: Danielle Menezes. Bem frio mesmo. E eu disse: mas cadê o Baby? o amor?fofinha? pelo menos DANI. É pra gente ser brega, cara. E ele disse que ele mantem um padrão na agenda telefônica e só trabalha com nome e sobrenome. Engoli seco a revolta e o transformei em “BRUNO SANTOS” no meu celular..assim mesmo, bem grosseira.
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Quanto mais eu fui chegando próximo da minha crise existencial com o mundo jurídico, mais eu ia percebendo que boa parte da minha agonia era o formalismo que me irritava. Vossa Excelência, Doutor, data venia, prezados, sério? Terninho, gravata, barba feita, sério? É o tipo de coisa que me entedia, mas que eu havia aprendido a conviver porque afinal de contas, eu era advogada e sabia o que ia me esperar desde o princípio. Mas aí, eu no auge da minha rebeldia pensei ” f** que o mundo jurídico foi sempre assim, ele não precisa continuar assim se a gente não quiser, não é mesmo?”. Educação é diferente de formalismo, Respeito é diferente de formalismo. Eu não preciso chamar o juiz de Vossa Excelência para evitar que petições sem correção escrito “aquele juiz é cuzão” sejam protocoladas indevidamente. E aí, eu passei a assumir o meu lado rebelde esperando o dia de ser “punida” por isso. Não aconteceu. Talvez as pessoas dêem mais ênfase a teria do formalismo do que exista de verdade. O fato é que o judiciário está tão abarrotado, mas tão abarrotado, que poucas pessoas tem tempo para prestar atenção que eu fui fazer audiência de tênis, jeans escuro e tatuagens a mostra. Saí de lá com meu cliente feliz, então, se ele reparou nisso tudo quando chegou, já havia esquecido da minha aparência e o juiz, ah, tadinho, mal olhou para o lado que dirá para o meu calçado. Mas não é só isso que deveria importar?? Pessoas civilizadas resolvendo um problema e profissionais preocupados em fazer um bom trabalho? Eu, na minha mente rebelde, acredito que sim.
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Aos poucos, meu sócio formal que fica incrivelmente elegante de terno passou a ser prático também. Ele deixava a roupa de advogado dele guardada no escritório caso surgisse alguma audiência ou cliente de última hora, mas começou a se locomover de calça jeans, camiseta e tênis. Muito mais prático e fresquinho. Era bem menos bonito é claro, mas tem hora que a gente tá mais preocupado em não suar como um porco do que ficar elegante de gravata no transporte público, não é!? E eu, fui me tornando mais e mais avessa a burocracias e formalidades. Eu não acho que elas precisem existir para as coisas andarem corretamente. Eu acho que a gente precisa ter noção de respeito, responsabilidade, pontualidade e até hierarquia quando ela existe, mas a gente não precisa ser tão formal. Não precisamos ser tão formais em rodas de amigos, ficar falando de trabalho, parecer sérios e responsáveis o tempo todo.  Até agora os melhores grupos de amigos que formei foram aqueles em que as pessoas se permitiram serem “ridículas”. Fazer sons constrangedores, cantar desafinada, dançar desgovernadamente, contar histórias nada engrandecedoras. Quando as pessoas relaxam e não tentam se comportar como se estivessem numa entrevista de emprego o tempo todo a gente enxerga melhor quem são elas. Os pontos de vista, as ideias, até o caráter é melhor avaliado. Sem máscaras, por favor!
E talvez, por essa minha aversão ao formal ( e não aversão pelas regras, são coisas bem diferentes) é que meu marido insista em rir das minhas conversas com pessoas que acabo de conhecer. Ou ainda das polêmicas que lanço em grupos que acabei de chegar. Ele acha divertido, por que já se acostumou. Ele acha divertido porque fica só analisando a expressão facial dos outros. Eu acho cansativo. Eu acho cansativo ter que ficar me podando o tempo todo ou por algum espaço de tempo até analisar se já tenho intimidade ou não pra falar o que eu falaria normalmente e que nem iria ofender ninguém. Eu posso estar num ambiente descontraído falando de coisas sérias, porque a minha essência não muda com o ambiente, e espero que a de vocês também não. Se, por acaso, alguem precisasse da minha ajuda como advogada e eu estivesse vestida de festa junina por exemplo, o meu conhecimento jurídico continuaria sendo o mesmo e é isso que importa!
Quanto mais eu paro pra pensar o que me levou a ser quem eu sou hoje, mais percebo que numa mistura de histórias eu me tornei uma pessoa com qualidades,objetivos e defeitos fora dos padrões tentando se encaixar em lugares que não foram feitos para mim. E, num determinado momento cansei de forçar a barra e resolvi viver a vida assim livre, leve, solta ,mas com regras, horários, responsabilidades e objetivos impostas po mim e não por alguém num determinado momento do Universo que eu nem sei qual é.
E é isso, voltarei a minha solidão..bom domingo para voces!
PS: Devo confessar que fui derrotada na batalha da agenda telefônica e, com medo dos possíveis assaltantes que, possivelmente poderão levar o meu celular embora a qualquer momento, eu também passei a trabalhar com nomes e sobrenomes para eles não saberem quem é meu irmão ( embora não seja dificil de notar), marido, pai, mãe e talz. Formalismo = neura.
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O mundo de quem nada faz e muito critica

Certa vez, conheci um garoto que depois veio a ser muito meu amigo. Meu primeiro contato com ele foi chocante, queria sair correndo e nunca mais falar lhe dirigir a palavra rsrs. Ele dizia que odiava os humanos e queria morar numa ilha deserta ou tacar uma bomba e acabar com o mundo inteiro, algo do tipo.  Estava sempre repetindo como os humanos eram ruins, perversos, hipócritas.

Esse não é o meu único amigo pessimista, tenho alguns outros. Eles não acreditam muito na bondade humana, não fazem nada pra ninguém, vivem excluídos no mundo deles. Do alto de todo o meu otimismo, essas amizades sempre foram difíceis demais para mim, porém, ultimamente, estou quase tendo que concordar com essa filosofia.

A gente sabe que há pessoas que não devemos confiar. Todo mundo aqui já deve ter sido passado pra trás, sofrido com uma amizade falsa, traído por um namorado ou coisa assim do tipo. Mas aí pensamos “poxa, é apenas um fruto podre no meio do jardim, sigamos em frente”, eu não vou deixar de me relacionar com as pessoas apenas porque algumas foram sacanas.

E você segue em frente. A gente acaba desenvolvendo algumas técnicas de auto preservação, nem todo mundo mais chamamos de amigos, nem todo mundo mais a gente sai correndo de madrugada pra ajudar, embora a gente não se envolva profundamente com mais ninguém, julgamos todas boas pessoas. Aí, vem o facebook e meio que te faz acabar com boa parte do otimismo. Muitas das pessoas boas, destilam preconceito nas redes sociais ou piadinhas tolas. Em época de ânimos esquentados por conta do momento político então, a gente olha de tudo. Veja bem, já me declarei trocentas vezes ao mundo como de esquerda e com viés socialista. Eu não quero dizer que basta alguém ser de direita e capitalista que ela  já é o demônio para mim, não é nada disso. Mas, independente da sua ideologia política eu imagino que todos nós devêssemos desejar a mesma coisa: um país decente para T-O-D-O-S. Por todos, eu quero incluir, negros, pobres, LGBT, nordestinos, moradores de rua, usuários de droga, a tal da escória. Em “todos” não está incluido apenas a minha família. Eu já disse também, não me interessa em ter casa com grandes muros, carros do ano, e roupas de grife, se ao atravessar a rua eu vou ver uma criança cutucando o lixo para sobreviver. Quando eu falo que tenho um viés socialista, eu não quero dizer que você não possa usar o seu iphone, eu quero que T-O-D-O-S possam ter um iphone, inclusive a criancinha chinesa que o produz. A gente defende a igualdade, uma renda justa e honesta para todos. A supremacia do interesse público no lugar do particular, que a saúde, a educação e a segurança pública seja efetiva e que eu não precise pagar imposto + plano de saúde, escola e o guarda da rua para me sentir superior. É isso que a gente quer, é para isso que a gente trabalha.

É atrás dessa igualdade, desse mundo justo, dessa ideologia que a gente vive. Que a gente se voluntaria, que a gente “perde” finais de semana, fazendo ações em creche, em asilos, nas ruas. É por conta dessa ideologia, que abrimos mãos de nossos luxos. Não dá pra ser feliz com luxo sabendo que tem gente passando fome, não dá. Se você consegue, você é uma pessoa ruim, desculpe! Não dá pra viver nesse mundo pensando ” mas é fruto do meu trabalho, ninguém tem nada a ver com isso”. É fruto do seu trabalho o consumo de itens produzidos com mão de obra escrava, durma com esse barulho.

Agora, pior do que isso é quem não faz nada e ainda quer criticar. O problema dessa democracia representativa é que tem gente achando que basta votar. Basta votar e jogar lixo na rua. Basta votar e não registrar seus empregados. Basta votar e falsificar carteirinha de estudante para ter meia entrada. Tem dinheiro pra ir pra Europa, mas não tem dinheiro pra pegar um cinema, vê se pode. Aí, essas pessoas sentam nas suas cadeiras do alto de toda a sua pompa “porque trabalham” e acham que podem apontar seus dedos para os outros. Agora, fazer algo ninguem quer né? Ninguem quer sair do trabalho e fazer uma boa ação. Ninguém quer, perder um sábado, ninguém quer algo que dê trabalho. Todo mundo só quer saber de criticar.

Aí, eu vejo essas coisas e lembro daquele meu amigo lá do começo do texto. Tem hora que dá vontade mesmo de explodir o mundo e começar do zero, porque falhamos muito na missão. Como que a gente quer um mundo melhor se só pensamos em nós e em mais ninguém? Tem horas que o meu otimismo se esvai e a unica vontade que dá é de fugir para as montanhas enquanto é tempo.

 

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Para não falar de crise: Consumo sustentável

Faz bem uns dois anos que eu ouço falar ininterruptamente sobre crise. Quando eu fui montar meu escritório, o conselho é para que não fizesse, porque o país estava em crise. Quando eu quis mudar para um aluguel mais caro, o conselho é que eu não fizesse porque o país estava em crise. Quando eu quis mudar de emprego, sabem qual era o conselho? Poisé.

Eu sei que a situação não está facil. Sei que ano passado e ainda neste ano, milhares de demissões foram feitas e sei que o supermercado está caro, mas a verdade é que a crise (quase) não me atingiu.

Ontem, enquanto jantávamos a gente estava conversando em como 2015 e 2016 têm sido anos bons para nós. O Bruno está no mesmo emprego, logo a renda é a mesma. Eu, que larguei um emprego e comecei um negócio novo, também estou indo bem, mesmo que a minha renda tenha diminuído um pouco.

A verdade, é que de uns dois anos pra cá a gente iniciou um movimento em casa de consumo sustentável e com isso nossos gastos caíram drasticamente. A gente se desfez de um carro que não precisávamos, diminuímos o consumo por impulso, diminuímos as compras parceladas, mudamos para uma cidade mais barata, passamos a confraternizar mais com os amigos em casa do que nos bares carísssimos e, neste ano, o que acabou cortando mais da metade de nossos gastos com o mercado, é o fato de termos diminuído drasticamente o consumo de industrializados. A gente não come mais carne durante a semana, compramos apenas legumes, frutas e verduras, temperos a granel e sem refrigerante. Passamos a consumir roupas de pequenas marcas aqui de Blumenau, compro mais no comércio de rua do que no shopping e aumentamos as refeições em casa.

Todos esses ajustes foram feitos naturalmente. A cada mês a gente encontrava supérfluos na nossa vida que atrapalhava o orçamento, a saúde, a dieta, as ideologias e por aí ia. A gente sabe exatamente o quê gostamos de consumir e não queremos abrir mão, viagens, por exemplo é um deles.  A gente começou a perceber que às vezes gastava o dinheiro de uma viagem legal sem nem perceber, só consumindo de forma enlouquecida, desenfreada, seguindo a cartilha que ensinaram para a gente: consuma muito e seja feliz. Hoje a gente sabe que a verdade é o contrário: consuma menos e seja feliz.

Vemos ao nosso redor muita gente reclamando da crise. Muito porque os gastos aumentaram e a renda não. Outros porque a renda diminuiu e os gastos foram mantidos, mas ninguém quer rever a forma de consumo. Enxergo esse momento como uma ótima oportunidade para promover a mudança de alguns conceitos na nossa vida. Quem não muda pelo amor, muda pela dor. Ainda bem que escolhemos mudar pelo amor lá em casa, e nessa época difícil a gente tem ficado tranquilo.

Esse texto, não é para defender governo dizendo que não há crise, mas sim, para dizer que, com ou sem crise, o consumo sustentável sempre será a chave para uma boa vida, tranquila e com o que importa e hoje, mais do que nunca, a gente quer levantar essa bandeira para o mundo.